Há alguns anos eles já sinalizavam uma nova tendência, mas ainda eram muito novos para serem levados a sério. Agora que a chamada Geração Digital (formada por jovens que nasceram em meados dos anos 80) já está com idade suficiente para tomar suas próprias decisões, fica mais visível quem são, e a forma como estão se definindo as novas regras de seu consumo. Assim como os representantes mais velhos da Geração X (seus antecessores), a Geração Digital (também definida/conhecida como Geração Y) está identificada com o forte uso da tecnologia. Mas enquanto o computador era o maior ícone dos jovens de ontem, os de hoje já incorporaram intensamente esse equipamento ao seu cotidiano, elegendo, pelo seu lado, o telefone celular como símbolo deste novo momento. Hoje, em qualquer lugar, sozinhos ou em grupo, estes jovens estão manuseando, falando, testando e descobrindo novas formas de interagir entre eles através do seu aparelho.
Cada dia que passa, este pequeno objeto se reveste de maiores significados e de poder. E ao que tudo indica, essa relação utilitária tende a se acentuar ainda mais, devido aos avanços tecnológicos cada vez mais surpreendentes que, aliados ao design, tornam o celular, por um lado um verdadeiro objeto de desejo e de diferenciação grupal, e por outro uma condição para se relacionar entre si e com o mundo. Atentos a essas tendências, os fabricantes não só estão criando produtos cada vez mais modernos e sofisticados, como também agregando recursos de outros equipamentos e mídias ao celular, o que vem sendo chamado de “convergência tecnológica”. Por meio do celular, além do objetivo básico que é falar, também é possível enviar mensagens, jogar, assistir a programas de TV, tirar fotos, filmar, ouvir rádio, receber notícias, acessar internet, entre muitas coisas. Enfim, com a chegada de uma nova geração tecnológica, esses recursos certamente serão ainda mais ampliados.
Esta moçada nasceu e cresceu com um computador à disposição e ganhou intimidade com um telefone celular muito cedo. Portanto, tem infiltrado na própria pele a percepção de mundo através da tecnologia, da estética, da velocidade. Não concebem mais o seu cotidiano sem estes “acessórios” (que já se tornaram roupagem) – não dá para viver sem eles. Não há no repertório destes jovens a experiência capaz de fazer de forma mais artesanal, manual, o que eles fazem com computadores e celulares.
A tecnologia, neste caso, é um exemplo rico e ilustrativo, mas uma análise sobre o impacto provocado pelo amadurecimento da Geração Digital não pode se limitar a descrever como os jovens lidam com os aparelhos, mas sim de como eles estão mudando a sua forma de se comunicar, se informar, se divertir e, principalmente, de se relacionar com as pessoas. A forte interatividade, acompanhada da virtualidade e da comunicação à distância, são temas que merecem uma atenção especial. Se a virtualidade é algo que não existe como realidade, mas que é tão próximo da verdade/real que muitas vezes pode ser considerada como tal, como ficam os principais valores do relacionamento interpessoal, tais como encontros, afetos, sexo? Se de um lado amplia a potencialidade de contatos, por outro restringe as formas tradicionais de trocas. Consegue diminuir fronteiras pela agilidade da comunicação, mas também aumenta a distância entre as pessoas de buscarem as formas mais simples de aproximação – a pessoal, por exemplo. É um facilitador, porém um aprisionador também. Como seria para estes jovens um cotidiano sem a possibilidade de teclar ou ouvir um toque?A geração totalmente tecnologizada está virando adulta agora.
Não há dúvida de que será uma geração mais antenada e conectada com o mundo. Mas, como vai lidar com os relacionamentos mais duradouros e maduros? Como será o convívio pessoal freqüente? Como vai administrar conflitos? Será um ser mais solitário ou mais agregador? Qual será o grau de aprofundamento dos temas existenciais e tão essenciais às relações humanas? Estas são questões que merecem uma reflexão e um olhar mais atento para o futuro.
Não há pretensão de responder a todas estas difíceis questões, uma vez que ao longo do tempo as ciências sociais (psicologia, ciências sociais, antropologia) se encarregarão de ir atrás de respostas que possam compreender melhor os efeitos destas intensas novidades na vida destes jovens. Do lado do mercado, as empresas que atuam diretamente na inovação e criação de novos designs e tecnologias, poderão se ocupar de conhecer em profundidade os hábitos, atitudes e comportamentos relacionados aos novos tempos, como forma de estar cada vez mais próximos de seu público.
* Suzy Zveibil Cortoni é psicóloga e diretora da ComSenso Agência de Estudos do Comportamento
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